Abordagens multidisciplinares


        Há quem diga que o bullying sempre existiu – com outros nomes e outras facetas. Seria o reflexo de uma das características mais peculiares do ser humano, essa tendência amarga e torpe que temos em subjugar outro da mesma espécie; demonstrar poder.
      Creio ainda que um naturalista, a grosso modo incluiria o bullying na teoria de Darwin, argumentando pejorativamente que seria a sobrevivência do mais apto; o mais forte se sobrepondo ao mais fraco. Visto que um dos principais motivos que impulsionam esse tipo de agressão é uma distinção física ou intelectual, seriamos tentados a pensar dessa forma.Contudo, essa perspectiva é de uma tamanha selvageria; não haveria por conseguinte, nenhum desenvolvimento para a nossa espécie, mas nos levando a um retrocesso; uma involução. Portanto essa perspectiva de seleção natural além de danosa é deplorável.

       Embora o bullying não se restrinja ao âmbito escolar, nem a uma faixa etária fixa, é entre jovens no ambiente escola que esse fenômeno ganha proporções alarmantes.
Especialmente durante a infância nossos desejos e limites estão em desequilíbrio, somos altamente instintivos.

       Quando vêm ao mundo, os bebês satisfazem suas necessidades físicas e psíquicas de forma bastante direta e desinibida. Se estão com fome, choram. E também choram quando estão com a fralda molhada ou quando querem deixar bem claro que querem um pouco de calor humano e contato físico. Freud chama de id este princípio de prazer que existe em nós. Quando somos recém nascidos, quase todo o nosso ser é apenas um id.
O id continua conosco na idade adulta e nos acompanha a vida toda. Só que aos poucos vamos aprendendo a controlar nossos desejos a fim de nos adaptarmos ao nosso meio. Em outras palavras, aprendemos a afinar o nosso princípio de prazer com o princípio da realidade. Freud diz que construímos um ego e que este ego assume essa função reguladora.
Mas Freud aponta também uma terceira instância na psique humana: ainda crianças, somos confrontados com os padrões morais de nossos pais e de nosso meio. E mesmo depois de adultos podemos ouvir o eco de tais repressões e julgamentos morais. A expectativa de nosso meio no plano da moral parecem ter se alojado dentro de nós e passado a constituir uma parte de nós mesmos. À nossa consciência, Freud chama de superego.
 (O mundo de Sofia ; Jostein Garder)
[11]
        Devido a distorções e desequilíbrio nessas instâncias da psique humana, a necessidade de sentir-se poderoso toma a forma de bullying (nesse, a imaturidade é um importante fator de desequilíbrio) e outros tipos de violência.
        Essa tendência mais agressiva de algumas crianças, além de ser natural da personalidade, é reflexo do ambiente familiar, que exerce enorme influência no comportamento da criança.
Segundo Vygotsky, para que o indivíduo se constitua como pessoa, é fundamental que ele se insira num determinado ambiente cultural. As mudanças que ocorrem nele, ao longo de seu desenvolvimento, estão ligadas a interação dele com a cultura e a história da sociedade da qual faz parte. Por isso, e de acordo com os conceitos desenvolvidos por Vygotsky, o aprendizado envolve sempre a interação com outros indivíduos e a interferência direta ou indireta deles. Portanto, é fundamental ressaltar que a família exerce enorme influência no comportamento da criança. Assim também, a sociedade ao redor as molda.

        Para a criança que sofre esse tipo de agressão, os danos na maioria das vezes são irreparáveis. Pela freqüência da tortura, pelo despreparo da escola e pela sensação de total impunidade aos agressores, o bullying tem conseqüências enlouquecedoras.

    "Seus olhos estão abertos – foram vários os momentos durante a noite em que seu olhar triste buscava consolo na escuridão do quarto. Agora vê intervalos, são os primeiros fios de luz do dia que entram calmamente pelas brechas da janela. E, embora o furor do Sol espante a umidade fria da noite, seu corpo se torna gradativamente gélido e trêmulo. Sente um prazer aliviante quando submerge no seu desejo de que ainda poderia der madrugada; efêmero. A calmaria é quebrada abruptamente pelo seu despertador. A angustia novamente toma conta do seu peito – a sensação é horrível. Aperta o lençol entre suas mãos suadas. Mãos que ainda nem se apaixonaram. Mãos que ainda tem tantos prazeres pra tocar. Mãos que agora apertam firmemente o lençol suado. E enquanto uma luz triste invade seu quarto, seus olhos se fecham, e enchem-se de lagrimas. Queria dormir. Queria dormir pra sempre... para nunca mais ter que voltar para aquela escola". ( João Júnior)
     Esse pensamento, mostra a situação de uma vítima do bullying, cujo espaço escolar se apresenta para ela como um lugar de tortura, de medo e angústia.  
           A palavra bullying é de origem inglesa e é usado para se referir aos comportamentos violentos que são praticados na escola por meninas e meninos. Os atos de violência acontecem de maneira intencional e sem motivos aparentes. O agressor sempre se aproveita de pessoas mais frágeis para se divertir e espancá-los além de tornar a sua vida impossível e humilhante na escola.
As formas de bullying de acordo com Ana Beatriz Barbosa Silva na sua CARTILHA BULLYING – CNJ [12] são:
· Verbal (insultar, ofender, falar mal, colocar apelidos pejorativos, “zoar”)
· Física e material (bater, empurrar, beliscar, roubar, furtar ou destruir pertences da vítima)
· Psicológica e moral (humilhar, excluir, discriminar, chantagear, intimidar, difamar)
· Sexual (abusar, violentar, assediar, insinuar)
· Virtual ou cyberbullying (bullying realizado por meio de ferramentas
tecnológicas: celulares, filmadoras, internet etc.)
         O cyberbullying, de certa forma se torna mais complicado do que o Bullying tradicional.
         Tendo em vista que de acordo com Ana Beatriz Barbosa Silva na sua CARTILHA BULLYING – CNJ, os ataques ocorrem por meio de ferramentas tecnológicas como celulares, filmadoras, máquinas fotográficas, internet e seus recursos (e-mails, sites de relacionamentos, vídeos) [12]. Os efeitos do cyberbullying perpassam os muros das escolas e expõe a vítima ao público. Os praticantes fazem do anonimato a sua maior façanha, tendo em vista a facilidade que se tem hoje em criar perfis falsos em redes sociais e daí atingir cruelmente suas vítimas da maneira mais humilhante possível.
         Os praticantes do bullying escolhem os alunos mais frágeis. A vítima geralmente tem o seguinte perfil (são tímidas, são muito inteligentes, muito magras,obesas, orientação sexual diferentes e outros. baixa auto estima); como já mencionado , não existe motivos para a escolha das vítimas, simplesmente o agressor escolhe as vítimas que não mostram muita resistência a tal prática.
        De acordo Ana Beatriz Barbosa Silva na sua CARTILHA BULLYING – CNJ [ 12] as principais razões que levam os jovens a serem os agressores são:
1. Muitos se comportam assim por uma nítida falta de limites em seus processos educacionais no contexto familiar.
2. Outros carecem de um modelo de educação que seja capaz de associar a autor realização com atitudes socialmente produtivas e solidárias. Tais agressores procuram nas ações egoístas e maldosas um meio de adquirir poder e status, e reproduzem os modelos domésticos na sociedade.
3. Existem ainda aqueles que vivenciam dificuldades momentâneas, como a separação traumática dos pais, ausência de recursos financeiros, doenças na família etc. A violência praticada por esses jovens é um fato novo em seu modo de agir e, portanto, circunstancial.
4. E, por fim, nos deparamos com a minoria dos opressores, porém a mais perversa. Trata-se de crianças ou adolescentes que apresentam a transgressão como base estrutural de suas personalidades. Falta-lhes o sentimento essencial para o exercício do altruísmo: a empatia.
         Os principais problemas que uma vitima enfrentam no seu processo de aprendizagem e existência depende de muitos fatores, como o cognitivo, as experiências, a forma e a regularidade das agressões. Mas de acordo com a castila ora mencionada, Os problemas mais comuns são: desinteresse pela escola; problemas psicossomáticos; problemas comportamentais e psíquicos como transtorno do pânico, depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada, entre outros.  Em casos mais graves, podem-se observar quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio.
         Diante das considerações  até aqui, como identificar quando alguém está sofrendo a violência presencial ou virtual?   De acordo Ana Beatriz Barbosa Silva na sua CARTILHA BULLYING [12 ] – CNJ, Nos casos de bullying os pais e os profissionais da escola atentem especialmente para os seguintes sinais:
· Na Escola:
        No recreio encontram-se isoladas do grupo, ou perto de alguns adultos que possam protegê-las; na sala de aula apresentam postura retraída, faltas freqüentes às aulas, mostram-se comumente tristes, deprimidas ou aflitas; nos jogos ou atividades em grupo sempre são as últimas a serem escolhidas ou são excluídas; aos poucos vão se desinteressando das atividades e tarefas escolares; e em casos mais dramáticos apresentam hematomas, arranhões, cortes, roupas danificadas ou rasgadas.
· Em Casa:
      Freqüentemente se queixam de dores de cabeça, enjôo, dor de estômago, tonturas, vômitos, perda de apetite, insônia. Todos esses sintomas tendem a ser mais intensos no período que antecede o horário de as vítimas entrarem na escola. Mudanças freqüentes e intensas de estado de humor, com explosões repentinas de irritação ou raiva.                Geralmente elas não têm amigos ou, quando têm são bem poucos; existe uma escassez de telefonemas, e-mails, torpedos, convites para festas, passeios ou viagens com o grupo escolar. Passam a gastar mais dinheiro do que o habitual na cantina ou com a compra de objetos diversos com o intuito de presentear os outros. Apresentam diversas desculpas (inclusive doenças físicas) para faltar às aulas.
       Em relação ao praticante do bullying, como identificá-lo? Na escola os agressores, geralmente são aqueles que vivem fazendo brincadeiras de mau gosto. Gozações. Apelidam os outros continuamente, gostam de ameaçar, menosprezar os colegas, furtam dinheiro, lanches, quem ser popular na escola e sempre querem se destacar em algo. Além de só andarem enturmados. Também sempre se diverte quando outros se dão mal.
         Em casa, o mesmo vive tendo atitudes desafiadoras e agressivas em relação aos
Familiares. São arrogantes no agir, no falar e no vestir, demonstrando superioridade. Manipulam pessoas para se safar das confusões em que se envolveram. Costumam voltar da escola com objetos ou dinheiro que não possuíam. Muitos agressores mentem, de forma convincente, e negam as reclamações da escola, dos irmãos ou dos empregados domésticos.
   As vezes a prática do bullying começa no próprio lar.Muitas vezes os pais são agressivos com os filhos , dão mal exemplo. È importante que os mesmos ensinem pelo exemplo qualidades como solidariedade, respeito, altruísmo para que os filhos mostrem osso na escola e durante suas vidas nas práticas sociais.

     É extremamente importante refletir sobre a questão se o bullying acontece mais em escolas públicas ou privadas. Na realidade os estudos mostram que essa prática acontece em todas as escolas. A diferença está em como cada escola resolve as questões referentes a esse assunto, e a postura que as mesmas adotam.
     Mas se fizermos uma pesquisa, logo observaremos que de certa forma existe uma postura mais efetiva por parte das escolas públicas. As mesmas se empenham mais em campanhas, em encaminhar denúncias para os conselhos tutelares, delegacia da criança e do adolescente e outros.
     Algo que se observa muito em casos de bullying, é que as vítimas nem sempre contam para os pais ou professores sobre o que está acontecendo. E essa atitude é um retrato do medo que a atormenta. Muitas vezes a vítima é levada a crer que ela mesma é culpada pelo que está acontecendo. Também passar a se iludir de que se permanecerem calados, irão assim poupar seus pais da decepção de ter um filho fraco que não sabe se defender na escola.
    Nesse momento é importante refletir sobre qual é o papel da escola para enfrentar esse fenômeno. Em casos de bullying, a direção da escola tem a obrigação de se reunir com os pais, encaminhar as denúncias para os conselhos tutelares, caso contrário, a escola levará consigo a  culpa por omissão e será responsabilizada pelos atos de violência.
   Quando ocorrer atos graves de violência, a escola deve fazer uma ocorrência policial, pois assim o assunto será averiguado e os agressores serão devidamente punidos no rigor da lei. Essas ações ajudar a combater a delinqüência e impede de certa forma que a violência perpasse os muros da escola.
   Uma questão importantíssima que deve séria reflexão é sobre a influência da sociedade contemporânea nesse fenômeno. Vivemos numa sociedade capitalista, em que o individualismo e o anseio de sempre querer mais e mais também contribui para que se menosprezem aqueles mais desfavoráveis economicamente. Os pais passam a ser mais liberais e muitas vezes vivem ensinando para os filhos, através das suas ações, que o dinheiro é, mas importante do que construir amizades sólidas.
  Em relação às vítimas do bullying, os pais e professores têm um papel fundamental em ajudá-los a superar os traumas deixados pela essa prática. È importante está atento para identificar o bullying precocemente, pois geralmente as vítimas não irão comentar sobre o assunto, pois, tem muito medo de vingança e vergonha. Por isso é importante que os pais observem o comportamento dos filhos para verificar se nada de estranho está acontecendo e estabelecer uma relação dialógica com eles, e sempre que notar que algo está fora do lugar, procurar ajuda de profissionais que estudam a mente humana.